Última alteração: 2017-10-10
Resumo
O fígado é vulnerável a uma grande variedade de insultos metabólicos, tóxicos, microbianos, circulatórios e neoplásicos (CRAWFORD, 2004). As infecções hepáticas podem ocorrer por via hematógena, penetração direta e ascendente pelo sistema biliar (CULLEN; MACLACHLAN, 2001). Hepatites agudas são frequentemente acompanhadas de necrose, células inflamatórias e posteriormente por fagócitos que removem o material necrótico para substituição por tecido fibroso ou regeneração de hepatócitos (CRAWFORD, 2004). Em casos de permanência do agente infeccioso, a hepatite evolui para uma inflamação crônica que pode resultar na formação de abscessos hepáticos ou granulomas (CULLEN; MACLACHLAN, 2001; CRAWFORD, 2004). O objetivo desse relato de caso é a descrição ultrassonográfica de um abscesso hepático em cão, com diagnóstico definitivo obtido por citologia aspirativa guiada.
Foi atendida uma fêmea da espécie canina, raça Schnauzer, com 11 anos de idade apresentando hiporexia, vômito e abdominalgia. O hemograma evidenciou severa leucocitose por neutrofilia. Exames bioquímicos demonstram aumento das enzimas fosfatase alcalina (FA), alanina aminotransferase (ALT) e gama glutamil transferase (GGT), identificando comprometimento da função hepática. Ao exame ultrassonográfico observou-se a presença de uma estrutura nodular medindo 6,10x5,2cm localizada em lobo hepático esquerdo, delimitada por parede irregular hiperecogênica, apresentando ecogenicidade central mista, variando de anecogênica a hipoecogênica não estruturada, apresentando vascularização periférica ao estudo de Doppler colorido. Os achados ultrassonográficos são sugestivos de abscesso hepático.
Foi realizada a citologia aspirativa por agulha fina percutânea guiada por ultrassom da estrutura supracitada, que confirmou o diagnóstico. O material coletado apresentou acentuada celularidade, composta por neutrófilos e bactérias, sendo compatível com hepatite abscedante. Após um mês do diagnóstico e tratamento com antibioticoterapia e analgésicos, o animal retornou sem alterações clínicas, bioquímicas e hematológicas.
Abscessos hepáticos são incomuns em cães e tendem a aparecer como lesões hipoecogênicas, arredondadas, frequentemente cavitárias podendo apresentar sedimentação purulenta ou imagem de massas ecogênicas complexas (D’ANJOU, 2011). Ao exame ultrassonográfico podem estar presentes focos de reverberação hiperecogênico compatíveis com gás, e a gordura abdominal adjacente à borda hepática pode estar hiperecogênica. O diagnóstico diferencial para lesões nodulares focais no fígado são neoplasias, hematomas e cistos parasitários (D’ANJOU, 2011). No presente relato, o exame ultrassonográfico foi de fundamental importância para a localização e caracterização da lesão, e obtenção do diagnóstico definitivo precoce através da citologia guiada, influenciando diretamente o prognóstico clínico do paciente.