Jornacitec Botucatu, VI JORNACITEC - Jornada Científica e Tecnológica

Tamanho da fonte: 
BENEFÍCIOS DOS STENTS BIOABSORVÍVEIS UTILIZADOS EM ANGIOPLASTIAS CORONARIANAS
Liv Wilman Quiozzo Nogueira, Luis Alberto Domingo Francia Farje

Última alteração: 2017-10-09

Resumo


1 INTRODUÇÃO

A doença arterial coronariana (DAC) é umas das principais causas de morte em todo o mundo e apesar do aumento de incidência tem-se verificado uma diminuição na taxa de mortalidade. A evolução no tratamento da doença arterial coronariana é o principal fator para esta diminuição (SOUSA, 2014).

Na prática clínica, em 90% dos casos, o substrato fisiopatogênico da DAC relaciona-se com obstrução arterial por placa aterosclerótica. No que se refere ao infarto agudo perioperatório, esse mecanismo é responsável por aproximadamente 50% dos casos. A outra metade está relacionada a situações cuja oferta de O2 encontra-se insuficiente para a demanda miocárdica (RAMOS, 2010).

Em 1964, Dotter e Judkins descreveram o procedimento original de angioplastia com o uso de cateter de dilatação em circulação periférica, antevendo sua aplicabilidade em circulação coronária. Para combater o alto índice de reestenose que se seguia à angioplastia, foi proposto por Dotter, em 1969, o implante de uma prótese endovascular que promovesse sustentação da parede do vaso após a intervenção (GUERIOS et al, 1998).

Desde a primeira angioplastia coronária por balão, tem-se assistido a constantes evoluções nas Intervenções Coronárias Percutâneas (ICP). A primeira grande evolução deu-se com a introdução de stents metálicos, que permitiu reduzir a taxa de oclusão aguda verificado com angioplastia por balão (SOUSA, 2014).

A introdução dos stents farmacológicos em 2002 revolucionou a cardiologia invasiva através da redução de reestenoses (SASTRY; MORICE, 2008).

Os stents bioabsorvíveis surgiram como forma de aumentar a segurança a longo prazo das Intervenções Coronárias Percutâneas (ICP) (SOUSA, 2014).

Diante disso, o trabalho tem como objetivo colocar em evidência os benefícios do uso de stents bioabsorvíveis em angioplastias coronarianas.

2 DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO

Quando uma artéria coronária tem um estreitamento de janela, o resultado é uma redução do fluxo sanguíneo, o que pode vir a provocar um ataque cardíaco. Sendo necessário um procedimento cirúrgico chamado de angioplastia, onde um balão é inserido para abrir a artéria no ponto de bloqueio. Stents podem ou não serem usados para ajudar a manter as artérias coronárias abertas e reduzir a chance de um novo ataque cardíaco (TAVARES et al., 2014).

Segundo o DATASUS, no Brasil ocorrem aproximadamente 140 mil óbitos por DAC/ano. Em comparação com os dados de outros países, no Brasil o número de pacientes com angina é de, no mínimo, 1,5 milhão, com incidência aproximada de 50 mil novos casos/ano (RAMOS, 2010).

A doença arterial coronária (DAC) é a causa isolada de morte mais frequente em todo o mundo, com mais de 7 milhões de mortes, representando 12,8% de todas as mortes. Segundo dados da OECD, as doenças do sistema cardiovascular, nomeadamente a doença coronária, são a principal causa de morte em Portugal (SOUSA, 2014).

Atualmente, mais de 400 mil norte-americanos e quase 900 mil pacientes em todo o mundo são submetidos à angioplastia transluminal coronária (ATC) a cada ano. Avançou-se no entendimento da doença aterosclerótica e dos efeitos da ATC sobre ela com o advento da angioscospia e do ultra-som intravascular. Cada um destes métodos tem seu nicho no armamentário da cardiologia intervencionista. Todos estes esforços, contudo, não foram suficientes para fazer a ATC superar seu limitante maior: a oclusão aguda e a reestenose (GUERIOS, 1998).

Órteses endovasculares, mais popularmente chamadas no meio acadêmico de stents coronários, visam a manutenção da luz arterial, ou seja, do diâmetro nominal da artéria anteriormente obstruída. Stent é um pequeno tubo formado por malha metálica ou polimérica. Quando aplicamos materiais biodegradáveis, o implante é projetado para permanecer tempo suficiente para reabilitar a janela, de forma a reestruturar o fluxo de sangue e assim ser “dissolvido” pelo organismo, que pode ou não conter fármacos (TAVARES et al.,2014).

Desde a primeira angioplastia coronária por balão, tem-se assistido a constantes evoluções na Intervenção Coronária Percutânea (IPC). A primeira grande evolução deu-se com a introdução dos stents metálicos, que permitiu reduzir a taxa de oclusão aguda verificada com a angioplastia por balão (SOUSA, 2014).

Posteriormente, os stents eluidores de fármacos (DES) permitiram a redução da hiperplasia da neointima com a difusão de fármacos anti-proliferativos e consequentemente verificou-se uma diminuição da reestenose, entretanto o uso dos DES apresentou limitações a longo prazo, devido a presença de um risco aumentado de fenômenos tromboembólicos tardios resultantes de um processo de reações inflamatórias locais persistentes (SOUSA, 2014).

A procura de um dispositivo que permita a contenção do lúmen temporária enquanto o vaso se restaura foi o objetivo das investigações seguintes. O resultado foi uma nova revolução no tratamento da DAC – os Stents Bioabsorvíveis (BVS)’ (SOUSA, 2014).

Os BVS surgiram como um potenciador da reabilitação vascular após uma lesão endotelial. Estes proporcionam uma força de contenção vascular temporária e permitem a eluição de fármacos anti-proliferativos, libertando posteriormente o vaso desta estrutura através de um processo de degradação e absorção fisiológico. Este processo permite que a artéria coronária restaure a sua estrutura e as suas funções (SOUSA, 2014).

A longo prazo, os BVS apresentam múltiplos benefícios como uma menor reação inflamatória, uma diminuição da trombose do stent, uma diminuição do período da terapêutica antiagregante, uma maior possibilidade de intervenções futuras no vaso e a possibilidade do uso de meios não invasivos para monitoração (SOUSA, 2014).

As medidas hemodinâmicas não invasivas podem ser obtidas através da monitoração contínua da pressão arterial sistêmica pelo modelo de ondas de pulso, por exemplo (LIMA et al, 2012).

A conformabilidade do stent, definida como a adaptação da prótese à forma natural do vaso, é a principal responsável pelas alterações geométricas produzidas após o implante do dispositivo, sendo influenciada pelo material e pelo desenho do stent. Ela pode ser aferida medindo-se as modificações da curvatura e a angulação do segmento tratado após o implante do stent. Um estudo prévio demonstrou que suportes vasculares bioabsorvíveis (SVB) têm melhor conformabilidade que os stents com plataformas metálicas (SILVA et al.).

Esta é uma nova era na Cardiologia de Intervenção em que se associam as vantajosas características e propriedades dos DES à capacidade de degradação e absorção do BVS após terminar sua função (SOUSA, 2014).

Ainda que os SVB sejam superiores aos atuais stents metálicos em conformabilidade, e por essas diferenças serem tão sutis, é necessário aguardar avaliação de casuísticas maiores e com acompanhamento de longo prazo, para se verificar a tradução clínica desses achados (SILVA et al.).

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de se tratar de algo novo dentro da cardiologia, o uso de stents bioabsorvíveis já consegue evidenciar benefícios quando comparado com outros tipos de stents, pois mostra diminuição de chances de complicações após seu implante, entretanto que ainda é necessário acompanhamento a longo prazo dos novos casos para que as estatísticas confirmem plenamente seus benefícios.

 

4 REFERÊNCIAS

GUERIOS, E. E.; ANDRADE, P. M. P. de; NERCOLINI, D. C.; PACHECO, A. L. A. Stents. Uma Revisão da Literatura. Arquivo Brasileiro de Cardiologia v.71, n.1, 1998.

 

LIMA, M. V.; OCHIAI, E. M.; VIEIRA, K. N.; CARDOSO, J. N.; BRANCALHÃO, E. C.; PUIG, R.; BARRETTO, A. C. P.; Uso da Monitoração Hemodinâmica Contínua não Invasiva na Insuficiência Cardíaca Descompensada. Arquivo Brasileiro de Cardiologia v.99 n. 3, 2012.

 

RAMOS, G. C.; Aspectos relevantes da doença arterial coronariana em candidatos à cirurgia não cardíaca Revista Brasileira Anestesiologia v. 60, n. 6, 2010.

 

SASTRY, S.; MORICE, M.C. Os stents farmacológicos são seguros e eficazes em longo prazo? Arquivo Brasileiro de Cardiologia v. 95 n. 5, p. 663-670, 2010.

 

SILVA, M. V. e;  COSTA JUNIOR, R.; ABIZAID, A.; SATICO, R.; TAIGUARA, D.; JUNIOR, T. C. B.; COSTA, R.; CHAMIÉ, R.; SOUSA, A.G.M.R; SOUSA, E. Modificações na Angulação Coronária Após Implante de Suporte Vascular Bioabsorvível e de Stents de Cromo-Cobalto e Aço Inoxidável. Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva. v. 21 n. 4, p. 332-7. 2013

 

SOUSA, M. J. A. Stents Bioabsorvíveis: Uma nova era no tratamento da doença arterial coronária. 30f.  Dissertação (Mestrado em Medicina) apresentada na Universidade do Porto, 2014.

 

TAKIMURA, C. K.; GALON, M. Z.; LOPES JUNIOR, A. C. de A.; CARVALHO, J.; FERREIRA, S. K.; CHAVES, M. J. F.; AIELLO, V. D.; GUTIERREZ, P. S.; LAURINDO, F. R.; LEMOS, P. A. Avaliação pelo Tomografia de Coerência Optica de Stent Nacional Recoberto com Poímeros Biodegradável Eluidor de Sirolimus VS. Stent Eluidor de Biolimus A9 em Artérias Coronárias Porcinas. Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, v 19, n 2, p. 138-44, 2011.

 

TAVARES, A. C.; MARTINS, V.; MARIOT, P.; WERMUTH, D. P.; ZHOU, J.; SCHAEFFER, L. USO DA MOLDAGEM DE PÓS POR INJEÇÃO PARA OBTENÇÃO DE STENTS BIODEGRADÁVEIS. Contribuição técnica para apresentação ao 5ª Conferência Internacional de Metalurgia do Pó - Porto Alegre, 2014.


Texto completo: PDF