Jornacitec Botucatu, VI JORNACITEC - Jornada Científica e Tecnológica

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ULTRASSONOGRAFIA TORÁCICA APLICADA NA MEDICINA VETERINÁRIA - TÉCNICA VETBLUE
Fernanda Michelon, Jeana Pereira da Silva, Carmel Rezende Dadalto, Dhyego Thomazoni, Maria Jaqueline Mamprim

Última alteração: 2017-10-09

Resumo


O VetBLUE (BLUE, da sigla em inglês para bedside lung ultrasound exam, ou exame ultrassonográfico pulmonar no leito, em português) é uma adaptação do Protocolo BLUE utilizado na medicina humana para diagnóstico de diversas afecções respiratórias (LICHTENSTEIN e MEZIERE, 2008; LISCIANDRO, 2014). É uma técnica rápida, fácil, precisa e segura, que requer mínima contenção física e não produz radiação ionizante (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013; LISCIANDRO, 2014), podendo ser utilizado como método de triagem e monitoramento para cães e gatos que apresentam angústia respiratória (LICHTENSTEIN e MEZIERE, 2008). O exame consiste na identificação dos seguintes artefatos de imagem: linhas-A e sinal de deslizamento (movimento craniocaudal pulmonar) indicam a presença de um pulmão sadio (Figura 1), enquanto que linhas-B representam edema (Figura 2) (LISCIANDRO et al, 2014; LISCIANDRO, 2017), sendo a quantidade proporcional ao grau de infiltrado intersticial e alveolar (VOLPICELLI, 2012). Normalmente, em pacientes que não apresentam doença respiratória, as linhas-B estão ausentes ou presentes em pequena quantidade (de uma a duas por área escaneada) (LISCIANDRO et al, 2014; LISCIANDRO, 2017). A técnica consiste na avaliação bilateral de quatro regiões pulmonares específicas, na seguinte ordem: caudodorsal, em terço superior torácico, entre 8-9 espaços intercostais (EIC), peri-hilar, no terço médio, entre 6-7 EIC, pulmonar-média, em terço ventral, entre 4-5 EIC e pulmonar-cranial, em terço ventral, entre 2-3 EIC (Figura 3) (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013; LISCIANDRO, 2014). Em cada área, o número de linhas-B deve ser registrado da seguinte maneira: representadas por 1, 2, 3 ou >3 quando reconhecidas individualmente, e infinitas (∞) se confluentes (LISCIANDRO, 2013). Não é necessária a realização de tricotomia do paciente, sendo que o uso de álcool e gel acústico é o suficiente para criar uma boa superfície de contato entre o transdutor e a pele (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013). O exame é realizado com o paciente em estação ou em decúbito esternal, dependendo do grau de comprometimento respiratório (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013). O decúbito dorsal nunca deve ser utilizado pois pode piorar o quadro respiratório (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013). O transdutor é posicionado perpendicularmente ao eixo longo das costelas, com a frequência variando entre 5-10MHz. Transdutores microconvexos são preferíveis aos lineares por apresentarem menor área de acoplamento, e os setoriais não são recomendados por possuírem ponto focal pequeno (LISCIANDRO, 2013). O método tem como limitações a necessidade do contato do pulmão com a parede torácica para avaliação ultrassonográfica e a inabilidade de avaliação de alterações localizadas abaixo do tecido pulmonar normal devido à não propagação das ondas sonoras em meio gasoso (VOLPICELLI, 2012). O VetBLUE é útil na classificação da origem da dispneia, diferenciando causas pulmonares de cardíacas, condições do trato respiratório superior de inferior, além de direcionar a busca para outras condições que também podem causar dispneia como febre, tamponamento cardíaco, hipovolemia, ascite e acidose metabólica (BOYSEN e LISCIANDRO, 2013; LISCIANDRO, 2014). Por ser capaz de promover diagnóstico imediato, o VetBLUE é a técnica diagnóstica ideal para utilização na sala de emergência em pacientes dispneicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOYSEN, S. R.; LISCIANDRO, G. R. The use of ultrasound for dogs and cats in the emergency room - AFAST and TFAST. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v.43, p.773–797, 2013.

 

LICHTENSTEIN, D. A.; MEZIERE, G. A. Relevance of lung ultrasound in the diagnosis of acute respiratory failure: the BLUE protocol. Chest, v.134, p.117– 125, 2008.

 

LISCIANDRO, G, R. The Vet Blue Lung Scan. In: Focused Ultrasound Techniques for the Small Animal Practitioner. 1 ed. Wiley Blackwell, 2014.

 

LISCIANDRO, G. R.; FOSGATE, G. T.; FULTON, R. M. Frequency and number of ultrasound lung rockets (b-lines) using a regionally based lung ultrasound examination named Vet blue (veterinary bedside lung ultrasound exam) in dogs with radiographically normal lung findings. Veterinary Radiology and Ultrasound, v.55, n.3, p.315–322, 2014.

 

LISCIANDRO, G. R. et al. Frequency and number of B-lines using a regionally based lung ultrasound examination in cats with radiographically normal lungs compared to cats with left-sided congestive heart failure. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, v.0, p.1–7, 2017.

 

VOLPICELLI, G.; ELBARBARY, M.; BLAIVAS, M. et al. International evidence based recommendations for point-of-care lung ultrasound. Intensive Care Medicine, v.38, p.577–591, 2012.


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