Jornacitec Botucatu, VI JORNACITEC - Jornada Científica e Tecnológica

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PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS DE MEDICINA NUCLEAR APLICADOS EM VETERINÁRIA
Jéssica Leite Fogaça, Michel Campos Vettorato, Ariane Dantas Dantas, Marco Antônio Rodrigues Fernandes, Vânia Maria Vasconcelos Machado, Sergio. A Lopes Souza

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


1 INTRODUÇÃO

A medicina nuclear é uma prática médica que permite analisar o estado fisiológico ou fisiopatológico do sistema em estudo por meio da administração de um radiofármaco cuja composição é dada por um material radioativo (radionuclídeo) combinado com moléculas químicas (fármacos) que possuem propriedades de depositar em órgãos e tecidos de interesse (DIAS, 2009; ZIESSMAN et al., 2015).

Em 1943, a medicina nuclear teve início por meio da descoberta do marcador radioativo por Georg de Hevesy. Esta prática médica é realiza de forma segura e indolor, em que os radiofármacos são administrados nos pacientes, fixando-se nos órgãos ou tecidos de interesse. Por meio deste procedimento o paciente torna-se uma fonte emissora de radiação ionizante (NETO, 2012).

Os principais radionuclídeos utilizados para obtenção das imagens são: Tecnécio-99m (99mTc), Iodo-123 (123I), Tálio-201 (201Tl), Gálio-67 (67Ga) e Flúor-18 (18F). E para tratamentos são: Iodo-131 (131I), Samário-153 (153Sm), Ytrium-90(90Y) e Rádio-223 (223Ra) (CECATTI, 2004). Os radiofármacos (radionúclideo + fármaco)  desejados para formação das imagens cintilográficas são os emissores de raios gama, os quais apresentam energia e quantidade adequada para a detecção por meio da gama–câmara (ZIESSMAN et al., 2015).

A cintilografia é uma técnica de medicina nuclear que oferece uma abordagem simples e não invasiva para investigar processos biológicos in vivo (NETO, 2012; STEYN, 1997; HUAIJANTUG, 2015). Este método na medicina tem mostrando crescente popularidade para pesquisas acadêmicas e para exames clínicos (WALMSLEY, 1995). Em medicina veterinária a medicina nuclear vem avançando e ocupando grande espaço internacionalmente. Em 1971, na Universidade do Colorado, os Drs. Edward Gillette e Donald Thrall publicaram os primeiros artigos de medicina nuclear veterinária, provando que a cintilografia pulmonar foi eficaz para o diagnóstico de vascularização pulmonar em cão (DANIEL, 2014).

Os países que não possuem recursos financeiros, normalmente apresentam limitações para conseguir realizar essa prática médica. A explicação se deve a dificuldade de conseguir material radioativo, equipamentos especializados e profissionais capacitados (GOGGIN et al., 1999; JARRETTA et al., 2010). Visando as diferenças de procedimentos aplicados em relação à medicina humana, este trabalho tem como objetivo apresentar os principais procedimentos de medicina nuclear aplicados em animais, por meio da literatura.

 

2 MATERIAL E MÉTODOS

Esse trabalho apresenta um estudo de atualização da literatura sobre os procedimentos de medicina nuclear na medicina veterinária, a partir de periódicos e livros, localizados com as palavras: medicina nuclear, medicina veterinária, cintilografia e radiofármacos.

Para o seu levantamento foram realizadas pesquisas em sites com publicações científicas na área, base de dados online (Google Acadêmico, Scielo, Bireme e Pubmed) além de livros da biblioteca da UNESP de Botucatu.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As vantagens da cintilografia são poder visualizar e quantificar a distribuição de diferentes radiofármacos no organismo in vivo (NETO, 2012; HUAIJANTUG, 2015). O radiofármaco é administrado ao paciente por via intravenosa, oral, inalatória  ou subcutânea, tornando o paciente uma fonte emissora de radiação ionizante. Suas escolhas se dão por alguns critérios, por exemplo: tempo de injeção, tempo de meia de cada radiofármaco, facilidade de excreção e órgão ou tecido de análise (MARQUES et al., 2001; ALVES, 2014).

O tempo de meia-vida (T1/2) representa o tempo necessário para que a atividade de uma amostra se reduza pela metade, por exemplo, o I131 utilizado na medicina nuclear possui o (T1/2) de oito dias. Uma amostra deste elemento de 100 gramas só terá 50 gramas ativa após oito dias, e assim por diante até que a radiação ionizante decaia por completo (SANTOS et al., 2013).

Outro exemplo, é o 99mTc cujo o T1/2 é de 6 horas e é eliminado na maioria das vezes pelo trato urinário. No entanto, a meia-vida efetiva do radionuclídeo no paciente é menor do que a meia-vida física (SAMOY et al., 2008; ZIESSMAN et al., 2015).

O contador Geiger–Muller é um equipamento utilizado no setor de medicina nuclear para a detecção e medição da radiação ionizante. É importante realçar que a unidade de medida utilizada para exposição é o Roentgen e o Coulomb/Kg) (BUSHONG, 2012).

A maioria das técnicas com os radionuclídeos utilizados em humanos também é aplicada em pequenos e grandes animais (BARBIERI et al., 1984; MORAES, ARCHER et al., 2003; KRZEMIŃSKI et al., 2004; RODRIGUES et al., 2009; MENGHETTI; BARROSO, 2010; VIEIRA et al., 2011; DANIEL; NEELIS, 2014). Porém, o que diferencia, são alguns procedimentos praticados no setor de medicina nuclear veterinária, como por exemplo, extensão lateral e longitudinal da mesa, para permitir estudar grandes animais (KRZEMINSKI et al., 2004).

Os animais variam relativamente de uma espécie para outra, sendo importante levar em consideração o tamanho, peso, características anatômicas e fisiológicas para realização dos exames. Os médicos veterinários baseiam os exames conforme realizado em humanos, mas as doses calculadas na medicina veterinária são de forma empírica. Ao contrário dos seres humanos, animais quase sempre precisam ser sedados ou anestesiados para os protocolos cintilográficos (BALOGH et al., 2005).

Os animais após a realização dos exames cintilográficos são isolados em gaiola, baia ou tenda individual, até que a radioatividade seja reduzida a um limite permitido, pois esse procedimento diferencia da medicina humana, onde os pacientes são liberados logo após o término dos exames com 99mTc. Os animais são normalmente liberados quando a exposição estabelecer 0,2 a 0,5 miliroentgen (mR) e essa monitoração é realizada pelo o equipamento Geiger–Muller. Os resíduos sólidos encontrados na baia ou na gaiola que abriga o animal, durante o período de isolamento, ficam até 60 horas (10 meias vidas) em um recipiente designado, para depois serem descartado (DANIEL et al., 2014).

Os pacientes envolvidos na rotina veterinária são geralmente cães, gatos e equinos. No entanto, já existem relatos em aves, repteis e roedores (MARSHALL et al., 2003; GREER et al., 2004; BALOGH et al., 2005; SYKES et al., 2006 GRIZZLE et al., 2009; YANG et al., 2011; OLIVEIRA et al., 2013).

Baixeras et al. (2004) relataram os riscos de contaminação da radiação ionizante para os profissionais do Setor de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas Veterinárias da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). A instalação desse hospital consistia de uma sala de imagem e uma baia individual para o isolamento de grandes animais. Para realização desse trabalho, foi utilizado um equino, cujo qual recebeu o radiofármaco MDP-99mTc via intravenosa. O animal e a instalação foram monitorados por meio do detector Geiger Muller. A baia adaptada possuía 42 metros quadrados (m2), sendo que as paredes e o piso foram feitos de um material impermeável, facilmente descontaminado. A parede possuía uma folha coberta de chumbo de 3 milímetros e o piso era coberto por um material não deslizante e poroso, a fim de evitar que os equinos, uma vez sedado, pudessem cair. Esse quarto (Figura 1) foi adaptado com um reservatório de metal, localizado no subterrâneo, o reservatório possuía a capacidade de armazenar 750 litros, para facilitar a remoção e deposição do material residual líquido. O possível risco de contaminação foi relatado apenas no momento em que o profissional vai injetar o radiofármaco via intravenosa.

 

Figura 1 - Equino monitorado em diferentes superfícies. Nota-se o profissional utilizando o avental de chumbo (A). A planta da baia adaptada para o recebimento do animal. Observa-se o reservatório subcuterrâneo (B).

 

Fonte: BAIXERAS; PÉREZ; ARGÜELLES, 2004.

 


 

4 CONCLUSÕES

Por esse estudo foi possível identificar os principais procedimentos de medicina nuclear aplicados em medicina veterinária, especialmente relatando as diferenças comparada com a medicina humana, como por exemplo, a dose empiríca, sedação e anestesia dos pacientes, além de demonstrar as adaptações para a prática em animais, tais como o isolamento, formato da mesa do equipamento gama câmera e o armazenamento de resíduos contaminados.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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