Última alteração: 2017-09-28
Resumo
RESUMO: Na medicina veterinária, a radioterapia já está implantada em vários países, no Brasil, ainda é um procedimento inovador (VETTORATO et al., 2017). As aplicações da radioterapia na veterinária têm demonstrado ótimos resultados (FERNANDES et al, 2010). A betaterapia é uma forma de braquiterapia onde a fonte emissora de raios beta é colocada diretamente na área em que se deseja tratar (TADA, 2010). Os raios beta são radiações do tipo corpuscular, e possuem baixo poder de penetração no tecido (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). Em seres humanos, o uso da betaterapia atualmente tem sido mais indicado para tratamento preventivo de lesões cutâneas, tais como queloides e cicatrizes hipertróficas. Em oftalmologia, a betaterapia tem apresentado ótimos resultados na prevenção de pterígio recorrente pós cirúrgico (COELHO, 2010). Visto o aperfeiçoamento da betaterapia na medicina humana, esse trabalho propôs copilar e apresentar as principais aplicações da betaterapia em medicina veterinária pela literatura. O nuclídeo mais utilizado é o estrôncio-90 (Sr90), com tempo de meia vida de 28,7 anos, que emite partículas beta de energia de 0,54 a 2,27 MeV. Essa fonte radioativa é inserida na superfície de um tumor para fornecer radiação, contudo esse método torna-se desvantajoso devido ao fato de administrar a dose superficialmente, impossibilitando o tratamento de tumores profundos (KENT, 2017). Conforme Mcentee (2004) nos Estados Unidos no ano de 2001, já havia 42 instalações de radioterapia veterinária, sendo que 33 instalações utilizavam a braquiterapia, onde 13 locais usavam o Sr90 em seus procedimentos. O número de casos tratados em 2001 com Sr90 variaram de 2 a 400 pacientes, sendo os tipos de tumores mais tratados os carcinomas de células escamosas oculares em equinos, carcinomas epidermóides cutâneos em cães e gatos e tumores de mastócitos em gatos. Na medicina veterinária, são publicados relatórios de utilização do Sr90 em gatos com carcinoma de células escamosas orais e nasais e tumores cutâneos de mastócitos (GOODFELLOW et al., 2006; TURREL et al., 2006; HAMMOND et al., 2007; NAGATA et al., 2011). Em cães e cavalos foi relatado o uso do Sr90 para o tratamento do carcinoma de células escamosas conjuntivais (NEVILE et al., 2015). Também há um relato de caso de plasmocitoma lingual em um cão tratado com Sr90, bem como o tratamento de melanoma e hemangiossarcomas nesta espécie (DOALDSON et al., 2006ab; WARE; GIEGER, 2011). Segundo Andrade et al. (2004), foi utilizado a betaterapia com Sr90 como terapia adjuvante à cistectomia parcial no tratamento do carcinoma de células de transicionais em um cão no Brasil, realizada em 4 aplicações de 5 minutos para cada região do trígono em intervalos de 5 minutos entre uma e outra, totalizando uma dose de 3000 cGy. De acordo com Kent (2017) betaterapia está cada vez mais disponível e tem sido usada para tratar diversos tipos de câncer em animais exóticos com o Sr-90. Assim como na medicina humana, as principais aplicações da betaterapia em medicina veterinária são dentro da dermatologia e em oftalmologia e tem demonstrado resultados relevantes em diversas espécies de animais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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