Última alteração: 2016-10-15
Resumo
1 INTRODUÇÃO
A medicina nuclear é uma prática médica que permite avaliar o estado fisiológico ou fisiopatológico do sistema em estudo, por meio da administração de um radiofármaco, cuja composição é dada por componente radioativo (radionuclídeo) combinado com moléculas químicas que possuem propriedades de localização desejada (THRALL; ZIESSMAN, 2003; DIAS, 2009).
Os principais radionuclídeos utilizados para obtenção das imagens são: Tecnécio-99 (99m Tc), Iodo-123 (123I), Tálio-201 (201Tl), Gálio-67 (67Ga) e Flúor-18 (18F) e para tratamento Iodo-131 (131I), Samário-153 (153Sm) e o Fósforo-18 (18P) (THRALL; ZIESSMAN, 2003; CECATTI, 2004).
A medicina nuclear vem avançando e ocupando grande espaço na medicina veterinária internacional. Em 1970, o uso desta prática médica ficou conhecido nos Estados Unidos da América e na Europa. Em 1971, na Universidade do Colorado, os Drs. Edward Gillette e Donald Thrall publicaram os primeiros artigos de medicina nuclear veterinária, demonstrando a eficácia da cintilográfia no diagnóstico de vascularização pulmonar em um cão (DANIEL et al, 2014).
Em 1975, o Dr. Gottieb Ueltschi da Universidade de Berna, realizou uma pesquisa envolvendo 19 equinos para avaliação da claudicação através da cintilográfia óssea. Neste mesmo ano, foi realizado o 20º Congresso Mundial de Medicina Veterinária na Grécia, no qual apresentaram estudos com cintilográfia de tireóide e tumores cerebrais de cães. Em 1980, a medicina nuclear veterinária avançou com equipamentos sofisticados e preparados para rotina da medicina veterinária (DANIEL et al, 2014).
A cintilográfia óssea é o procedimento mais realizado no setor de medicina nuclear veterinária e requer procedimentos específicos (HUAIJANTUG, 2015). Devido isso, esse trabalho teve como objetivo descrever as aplicações da cintilográfia óssea em pequenos e grandes animais.
2. DESENVOLVIMENTO
A cintilográfia óssea é amplamente realizada na rotina veterinária, devido à alta sensibilidade em detectar doença precoce de vários tipos e a capacidade de avaliar todo o esqueleto. A captação dos traçadores ósseos representa a atividade osteoblástica, e o fluxo sanguíneo regional do osso, qualquer alteração nestes fatores pode resultar em um exame anormal (CHRISTOPHER et al., 1998; DROST et al., 2003).
A cintilográfia óssea, é realizada através da adição de pertecnetato de sódio (NaTcO4) obtido da eluição do gerador de molibdênio e tecnécio (99Mo/99mTc), em um frasco contento o composto químico metilenodifosfonato (MDP – 99mTc) e o íon estanoso como agente redutor. Após o preparo, o radiofármaco é administrado via intravenosa, distribuindo rapidamente pelos fluidos do espaço extracelular. A captação óssea também é considerada rápida, entre o período de 2 a 6 horas representando 50% da dose (KUBA, 2008; THRALL; ZIESSMAN, 2003).
A imagem cintilográfica é obtida com gama – câmara equipada com colimador de baixa energia, de uso geral ou alta resolução. Para alguns equipamentos com amplo campo de visão, o estudo pode ser realizado de corpo inteiro ou em partes (spots). As imagens de corpo inteiro têm a vantagem de permitir um seguimento anatômico e as imagens parciais fornecem melhor resolução (THRALL; ZIESSMAN, 2003).
Técnicas especiais de imagem incluem estudos dinâmicos para diagnóstico diferencial entre doença óssea e doença em partes moles, e cintilográfia tomográfica (SPECT). Esta ultima é obtida em estudo de corpo inteiro para pesquisa de metástases ou para uma imagem mais localizada, por exemplo, trauma e osteonecrose. O SPECT fornece também melhor contraste entre as áreas quentes (hipercapitante) e áreas frias (hipocapitante) (THRALL; ZIESSMAN, 2003).
A cintilográfia óssea trifásica é considerada uma técnica especial de imagem, este procedimento é realizado em três fases distintas. A primeira (fase 1) inicia-se concomitantemente à administração intravenosa do radiofármaco identificando a fase arterial e venosa durante 60 segundos (fase dinâmica). A segunda fase (Fase 2) da trifásica denominada de equilibro, avalia o radiofármaco no espaço vascular, para determinar a permeabilidade da região estudada aumentada em eventos inflamatórios agudos, as imagens estáticas são adquiridas após 5 minutos. A terceira fase (Fase 3) referente à fixação óssea, é obtida entre 2 a 4 horas após administração do radiofármaco. As imagens são obtidas de corpo inteiro nas projeções anterior e posterior, e imagens estáticas da região de interesse. Este exame é amplamente realizado em doenças neuropáticas articular, fraturas por estresse, artrite reumatóide, entre outras enfermidades (KUBA, 2008; HUAIJANTUG, 2015).
DROST et al (2003) realizaram uma pesquisa envolvendo a cintilografia óssea em seis cães com infecção provocada por Hepatozoon Americanum, aos quais apresentaram proliferação periosteal em ossos longos. Para realização do exame, os animais foram anestesiados e monitorados até o término do exame. O radiofármaco utilizado foi MDP – 99mTc com dose de 0,44 mCi/ kg (16,3 MBq/Kg) administrado via intravenosa. Os animais foram posicionados em decúbito dorsal e lateral para obtenção de imagens dos membros torácicos e pélvicos. Após a realização das três fases, os animais foram isolados individualmente em gaiolas separadas durante 60 horas de acordo com as recomendações dos órgãos de segurança de radiação.
CHRISTOPHER et al (1988) realizaram um estudo em equinos que apresentavam sinais de claudicação. Para realização da cintilografia os animais foram sedados e monitorados até o termino do exame. Foi utilizado o radiofármaco MDP – 99mTc com dose que variaram entre 1 a 1,5 mCi (37 a 55,5 MBq) para cada 5 kg, aos quais foram administradas por via intravenosa. Após a realização das três fases, os animais foram isolados em baias diferentes e controlados por profissionais.
De modo geral, os procedimentos realizados na medicina nuclear veterinária tem mostrado eficiência em diversos tipos de diagnósticos, principalmente na cintilográfia óssea. Porém a demanda de pesquisas vem diminuindo de forma brusca comparando com o começo das décadas de 1980. Na América do Sul, essa modalidade não é exercida por falta de recursos financeiros, equipamentos disponíveis e a ausência de profissionais qualificados (DANIEL, et al 2014).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cintilográfia óssea demonstrou ser um método de diagnóstico seguro, não invasivo e indolor para pequenos e grandes animais conforme a literatura apresentada. Contudo, a descrição de toda a metodologia envolvendo essa modalidade pode melhorar o conhecimento dos profissionais envolvidos na medicina veterinária.