Jornacitec Botucatu, XIV JORNACITEC - Jornada Científica e Tecnológica

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A Fábula da Produtividade em "A Revolução dos Bichos"
Eduardo de Souza Pinto Netto, Fernanda Cristina Pierre Di Nardo

Última alteração: 2025-10-02

Resumo


Em "A Revolução dos Bichos", George Orwell não nos conta apenas a história de uma rebelião. Ele desenha um poderoso e atemporal alerta sobre o que acontece quando a busca por produtividade perde sua alma e se desconecta das pessoas que a geram. Lembramo-nos do entusiasmo inicial na Granja do Solar. Livres da opressão, os animais abraçam o trabalho com uma energia contagiante. A colheita é farta, não porque são forçados, mas porque trabalham para si mesmos, movidos por um propósito compartilhado e pela promessa de uma vida digna (ORWELL, 2007). É um retrato fiel de como a motivação que vem de dentro pode impulsionar resultados extraordinários. Mas a utopia é breve. A ascensão dos porcos como uma "classe pensante" muda tudo. A produtividade, antes uma ferramenta para o bem-estar, vira uma obsessão personificada no moinho de vento um projeto que exige cada vez mais suor por uma recompensa que nunca chega. Para manter a máquina girando, a gestão se apoia em duas ferramentas brutais: a propaganda de Sinaleiro, que manipula números e reescreve a história (ARENDT, 1989), e a força dos cães de Napoleão, que substitui a inspiração pelo medo. É a troca clássica do "querer fazer" pelo "ter que fazer", um pilar de gestões autoritárias que desconfiam de seus liderados (MCGREGOR, 1960). A tragédia de Sansão, o cavalo leal que doa até a última gota de sua força pelo projeto e, em troca, é vendido para o abatedouro, é a metáfora mais cruel do sistema: a força de trabalho torna-se apenas um recurso a ser esgotado. Orwell nos mostra que a linguagem e a dignidade se corroem na mesma velocidade que as condições de trabalho (WILLIAMS, 1984), um padrão visto em regimes que glorificam o sacrifício em nome de metas estatais (FITZPATRICK, 1994). No fim, a granja volta a ser "produtiva", mas a um custo terrível: ela se torna um espelho do sistema opressor que os animais tanto lutaram para derrubar. A lição de Orwell ecoa até hoje em qualquer organização: produtividade sem humanidade é apenas uma forma mais organizada de opressão.


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