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AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO DE ESPUMA PERSISTENTE E NÃO PERSISTENTE EM CALDAS DE PULVERIZAÇÃO COM ADJUVANTES
Última alteração: 2015-09-22
Resumo
Diego M. de Souza¹, Carlos G. Raetano², Lucas F. Galo³, Júlio C. L. Zanella ³ e Rodrigo A. de Paula³ ¹Mestrando em Proteção de Plantas, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu (FCA/UNESP),Departamento de Proteção Vegetal, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970, Botucatu (SP), email: diego-agronomia@hotmail.com. ²Professor Doutor, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu (FCA/UNESP),Departamento de Proteção Vegetal, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970, Botucatu (SP). ³Graduando em Agronomia, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu (FCA/UNESP). 1 INTRODUÇÃO A produção agrícola é ameaçada anualmente por problemas fitossanitários, os quais eventualmente causam prejuízos econômicos às lavouras. Como forma de mediar os danos causados pelos agentes nocivos às plantas os produtores rurais têm adotado o controle químico como a principal tática de manejo. Junto a este cenário, estão rígidas leis de tolerância de resíduos e o apelo dos consumidores por uma produção mais sustentável, obrigando o uso mais racional dos produtos fitossanitários. Neste sentido, a cadeia produtiva passa a exigir produtos menos tóxicos à saúde humana e ao ambiente quando destinados ao controle fitossanitário. A pulverização é a técnica de aplicação mais difundida dentre as aplicações na forma líquida no controle fitossanitário das culturas agrícolas. O processo de pulverização pode ser mais eficiente com adoção de medidas que contribuam com a redução de perdas e melhoria no desempenho dos produtos fitossanitários. Uma forma de interferir positivamente nos aspectos físico-químicos é a adição de adjuvantes na calda fitossanitária (STICKLER, 1992). Apesar do grande potencial de uso e da disponibilidade destes compostos no mercado existem muitas dúvidas quanto ao uso deles, no que se refere à relação custo/benefício e suas interações com o produto biologicamente ativo e o ambiente. Quando utilizados sem conhecimento prévio destas interações podem estimular propriedades negativas em relação à calda, como por exemplo, a formação de espuma. Segundo Araújo e Raetano (2011), a formação de espuma no tanque de pulverização pode causar o transbordamento da calda, proporcionar erros no momento da dosagem do produto, além de dificultar a limpeza. A formação de espuma na calda pode ser mensurada de forma direta pela leitura da altura da coluna de espuma, 5 minutos após sofrer agitação (espuma persistente), segundo metodologia descrita pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 13451 (2002). Apesar desta recomendação, a formação de espuma em tanques de pulverização a campo não respeita este tempo de repouso, visto que a calda está sob agitação contínua no tanque e, portanto, justificando uma avaliação da formação de espuma imediatamente após a agitação (espuma não persistente). Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar o efeito de diferentes adjuvantes de pulverização, nas concentrações recomendadas pelos fabricantes, sobre a formação de espuma persistente e não persistente. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP – Campus de Botucatu, no Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários, pertencente ao Departamento de Proteção Vegetal. Foram selecionados cinco adjuvantes de uso agrícola, com diferentes composições e dose (0,03 a 2%). As soluções com adjuvantes foram avaliadas nas concentrações mínimas e máximas recomendadas, com a premissa que os produtos serão utilizados somente na faixa de dose recomendada (Tabela 1). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC), com nove tratamentos e 3 repetições. Os dados foram analisados pelo teste de Tukey, à 5% de probabilidade e submetidos à análise de variância, com o auxílio do software estatístico SISVAR (FERREIRA, 2010). Tabela 1. Características dos adjuvantes de uso agrícola e suas respectivas concentrações. TRAT.¹ ADJUVANTES (PC)² CONC. (%)³ FORMULAÇÃO CLASSE COMPOSIÇÃO 1 Silwet 77 ag® 0,1 Concentrado Dispersível Espalhante adesivo Copolímero de poliéter e silicone 2 Aureo® 0,25 Concentrado Emulsionável Adjuvante Éster metílico de óleo de soja 3 Assist® 1 Concentrado Emulsionável Adjuvante Espalhante Óleo mineral 4 Assist® 2 Concentrado Emulsionável Adjuvante Espalhante Óleo mineral 5 Natur’l óleo® 0,2 Concentrado Emulsionável Espalhante Adesivo Óleo vegetal 6 Natur’l óleo® 1 Concentrado Emulsionável Espalhante Adesivo Óleo vegetal 7 Agral® 0,03 Concentrado Solúvel Espalhante Adesivo Nonil fenoxi poli (etilenoxi) etanol 8 Agral® 0,05 Concentrado Solúvel Espalhante Adesivo Nonil fenoxi poli (etilenoxi) etanol 9 Água destilada ¹ Número do tratamento avaliado; ² Nome do produto comercial; ³ Concentração do produto comercial em L/100L de água (%). Para o início do experimento foi necessário o preparo de água-padrão (AP), segundo a metodologia NBR 13074 (2004), resultando em uma dureza total equivalente de 20 mg/kg de carbonato de cálcio, pH entre 5,0 e 6,0 e proporção Ca:Mg de 1:1. Antes do preparo da calda, a água foi aquecida em banho termostatizado a 30° ± 1ºC. Em provetas de vidro, capacidade de 100 mL e providas de tampa, foram adicionados 50 mL de AP. Em seguida, foi adicionada a quantidade de produto comercial (PC) necessária para o preparo de 100 mL de solução. Após, as provetas foram completadas com água até a marca de 100 mL e tampadas. Imediatamente após o preparo das soluções, as provetas foram agitadas com as mãos, segurando pela extremidade, girando 180°, por 30 vezes, no tempo aproximado de 2 segundos por vez (ABNT 13451, 2002). Logo em seguida à agitação, com régua graduada, realizou-se a leitura, em centímetros, da altura do líquido e da altura espuma, denominada espuma não-persistente (NP). Passados 5 minutos após a primeira leitura, realizou-se novamente a avaliação, a qual foi denominada espuma persistente (EP). Os resultados foram transformados em porcentagem, após a aplicação da equação (1): Espuma (%) = (a/b) x 100 (1) Em que: a = Altura da espuma, em centímetros; b = Altura do líquido, em centímetros. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados foram expressos em porcentagem e separados em formação de espuma não persistente e persistente (Tabela 2). Tabela 2. Porcentagem de espuma após agitação da calda com adjuvantes de uso agrícola. TRATAMENTO ADJUVANTE CONCENTRAÇÃO (%) NÃO PERSISTENTE PERSISTENTE 1 Silwet 77 ag® 0,10 5,04 bc¹ 3,20 bcd 2 Aureo® 0,25 3,29 ab 1,94 abc 3 Assist® 1,00 5,62 bc 3,49 cd 4 Assist® 2,00 9,50 d 7,36 e 5 Natur'l óleo® 0,20 0,58 a 0,58 ab 6 Natur'l óleo® 1,00 0,58 a 0,58 ab 7 Agral® 0,03 7,56 cd 5,81 de 8 Agral® 0,05 7,75 cd 6,59 e 9 Água destilada --- 0,00 a 0,00 a DMS 3,34 2,78 CV 25.88 29.18 ¹Médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não se diferem estatisticamente segundo o teste de Tukey à 5%. Os tratamentos que mais inibiram o desenvolvimento de espuma foram: água destilada (tratamento 9), o qual não exibiu a formação de espuma em nenhuma das avaliações, seguido pelos tratamentos 5 e 6, caldas contendo o adjuvante Natur`l óleo® com valores de espuma inferiores à 0,6%, semelhante estatisticamente ao obtido com água destilada. Na avaliação de espuma não persistente, a solução com o adjuvante Assist® na concentração de 2,0 % revelou a formação de 9,5 % de espuma. Este comportamento não se repetiu na concentração 1,0 % com este adjuvante, evidenciando que se tratando do mesmo composto, a concentração do produto pode definir a quantidade de espuma. Tal fato também foi observado por Cunha e Alves (2011), trabalhando com adjuvantes na dose máxima e 50% da dose recomendada, demonstraram que as características físico-químicas da solução podem ter comportamento diferente ao se alterar a concentração da solução, como por exemplo, a tensão superficial. Na avaliação de espuma persistente, transcorrido o tempo de 5 minutos após a agitação, os valores médios reduziram, com exceção da água e de Natur`l óleo. Os adjuvantes Assist®, na concentração 2,0 % e Agral® na concentração 0,05% foram os que mais incrementaram a formação de espuma persistente. De forma geral, os tratamentos que acentuaram a formação de espuma na avaliação NP, foram os mesmos da avaliação de EP. No entanto, analisando o método para se estimar a formação de espuma não persistente parece se assemelhar às condições de campo, pois logo no momento de preparo, o sistema de agitação da calda do pulverizador já estará em funcionamento. 4 CONCLUSÕES As caldas aquosas contendo adjuvantes à base de óleo vegetal (Natur`l óleo®; Aureo®) proporcionaram os menores valores de porcentagem de espuma persistente e não-persistente. Os adjuvantes que proporcionaram a formação de maior quantidade de espuma foram Assist®, na concentração de 2,0 % e Agral®, independente da concentração. As variáveis a que são submetidas às soluções com adjuvantes são diversas. Portanto, a condução de futuros trabalhos considerando a adição dos produtos fitossanitários e até mesmo sua relação quanto a eficácia de controle se faz crucial para o desenvolvimento da tecnologia. 5 REFERÊNCIAS ARAÚJO, D.; RAETANO, C.G. Adjuvantes de produtos fitossanitários. In: Tecnologia de aplicação para grandes culturas, Passo fundo: Aldeia Norte, 2011, p.27-49. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13451: Agrotóxico: Determinação de espuma persistente. Rio de janeiro, 2002. 2 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13074: Agrotóxico e afins: Preparação de água-padrão para ensaios. Rio de janeiro, 2004. 4 p. CUNHA, J.P.A.R.; ALVES, G.S. Características físico-químicas de soluções aquosas com adjuvantes de uso agrícola. Interciência, v. 34, n. 9, p. 655-659, 2009. FERREIRA, D.F. Sisvar. 5.3. Lavras: UFLA, 2010. STICKLER, W.E. The importance of adjuvants to the agricultural chemical industry. In: FOY, C.L. (Ed.).Adjuvants for Agrochemicals. New York: Marcell Dekker, 1992. p. 247-249. AGRADECIMENTOS À CAPES, pelo apoio financeiro; ao grupo de estudos AGRIMIP pela colaboração das atividades desenvolvidas e ao grupo de trabalho do Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários.
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